sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Livre iniciativa e desenvolvimento

As consequências desse processo de crescimento superaram as ex-

pectativas. Onde quer que fossem suprimidos os obstáculos ao livre

exercício do engenho humano, o homem logo se tornava capaz de

satisfazer o seu crescente número de desejos. E se, por um lado, a

elevação do padrão de vida em breve levava à descoberta de grandes

mazelas na sociedade que os homens não mais estavam dispostos a

tolerar, por outro lado, provavelmente, não houve classe que não se

tenha beneficiado de modo substancial com o progresso geral. Não

poderemos fazer justiça a esse crescimento estarrecedor se o medir-

mos pelos padrões contemporâneos, que dele decorrem e que agora

tornam evidentes tantos defeitos antes não percebidos. O que tal pro-

gresso significou para os seus protagonistas deve ser avaliado pelas

esperanças e os desejos que os homens tinham quando ele começou;

e não cabe a menor dúvida de que seu êxito ultrapassou os sonhos

mais ousados. Em princípios do século XX, o trabalhador do mundo

ocidental havia alcançado um grau de conforto material, segurança e

independência que pareceria impossível um século antes.

 

Provavelmente, o que no futuro será considerado o efeito mais

significativo e abrangente desse êxito é a nova consciência de poder

sobre o próprio destino, a convicção das infinitas possibilidades de

melhorar a própria sorte, adquiridas pelo homem em virtude do

sucesso já alcançado. Com o sucesso nasceu a ambição – e o homem

tem todo o direito de ser ambicioso. O que tinha sido uma pro-

messa animadora já não parecia suficiente, e o ritmo do progresso

afigurava-se demasiado lento. Os princípios que haviam possibili-

tado esse avanço no passado começaram a ser considerados obstá-

culos à rapidez do progresso, a serem eliminados imediatamente, e

não mais as condições para a preservação e o desenvolvimento do

que já fora conquistado.


Caminho da servidão

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