terça-feira, 16 de abril de 2024

Ideologia e ciência

O INESCAPÁVEL VÍNCULO ENTRE IDEOLOGIA E CIÊNCIA
Por Cecilia Café-Mendes


INDAGAÇÃO E CONVICÇÃO: FRONTEIRAS ENTRE A CIÊNCIA E A IDEOLOGIA
ZAIA BRANDÃO


CIÊNCIA, UNIVERSIDADE E IDEOLOGA: a política do conhecimento Simon Schwartzman

Um dos supostos mais difundidos no século XIX era o de que, graças à ciência, a humanidade poderia livrar-se da política. A ciência era considera- da o domínio da lógica e da razão, enquanto a política era a órbita da emoção e da paixão. [...] Na realidade, a ciência não eliminou, nem sequer reduziu a presença da política na vida social. Mas eliminou sua base de legitimidade, fazendo-a ser desdenhada como desprezível, irracional e indigna. Afastada a política do caminho, está aberta a via pela qual a ciência e a tecnologia podem transformar-se em tecnocracia. Podemos compreender melhor esse processo se olharmos mais de perto cada um dos meios pelos quais a ciência supostamente faria desaparecer a política.

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Subsídios diretos e poder político/simbólico

Destino das emendas parlamentares em 2024
Ministérios Autorizado

Mulheres R$ 278.709.002,00
Direitos Humanos e Cidadania R$ 119.137.479,00
Igualdade Racial R$ 28.788.792,00
Povos Indígenas R$ 28.137.889,00
Cultura R$ 348.057.256,00
Educação R$ 1.770.048.607,00


Obs: Esses são apenas os subsídios diretos às teorias de esquerda. A rede econômica implicada nesses temas provavelmente é significativamente maior. As alternativas mencionadas nesse blogue não recebem financiamento nem de organizações não governamentais nem do governo, dependem de inserção no mercado para ter alguma influência e estão implicadas em um bolo econômico muito menor.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Comunidades multiculturais versus incorporação

Pelo menos no Brasil, as atitudes de esquerda e direita a respeito de grupos sociais diferentes correspondem respectivamente a atitudes de formação de comunidades multiculturais na esquerda e a incorporação à cultura majoritária na direita. Essas atitudes estão presentes tanto internamente quanto externamente aos grupos sociais diferentes.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Descrição, juízo de valor, explicação e ideologia

Ao transitar entre conhecimentos de influências ideológicas diversas é útil diferenciar o que é descrição de fatos, que não são necessariamente políticos, de juízos de valor e explicações que tem inspiração ideológica e se posicionam (discurso e interpretação) em relação aos fatos. Uma ressalva precisa ser feita em relação a descrição de fatos em ciências humanas e sociais. Os fatos nessas áreas tem natureza valorativa e influenciam a descrição de fatos. Uma discussão em filosofia da ciência é sobre a distinção fato e valor e se fato e valor são separáveis ou não.

sábado, 27 de janeiro de 2024

Esquerda, conservadores e liberalismo clássico

A esquerda é costumeiramente mais teórica e tem mais construções "científicas" pelo interesse contrafactual em transformar a sociedade. Transforma a sociedade através de regulação estatal e subsídios estatais.

O conservadorismo é menos teórico e intelectualizado pelo interesse na manutenção e defesa da tradição contra possíveis riscos e por isso prefere as análises circunstanciais.

O liberalismo clássico atua através da instituições, buscando apenas garantir um arcabouço de liberdades individuais e de condições facilitadoras da prosperidade. As pessoas precisam exercer sua liberdade dentro de um ambiente social com oportunidades aumentadas e por isso tem menos necessidade em quantidade de gestores ou controladores da prosperidade dos cidadãos através do Estado.

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Liberalismo clássico e reforma psiquiátrica

Qual a melhor forma de fazer reforma psiquiátrica antimanicomial de acordo com o liberalismo clássico?

A melhor maneira de fazer uma renovação psiquiátrica liberal clássica é concentrar-se nos direitos e liberdades individuais, bem como na responsabilidade pessoal pelas próprias ações. Esta abordagem enfatiza a importância da autopropriedade e da autonomia, ao mesmo tempo que reconhece que os indivíduos têm necessidades e desejos diferentes que devem ser respeitados. Como tal, envolveria a criação de um ambiente onde as pessoas pudessem perseguir os seus próprios objetivos sem interferência de terceiros ou do Estado, ao mesmo tempo que forneceriam apoio e recursos àqueles que deles necessitam.

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Ciências sociais e valores predominantes/ascendentes

As ciências sociais representam, em larga medida, um corpo de entendimento (com certeza sistemático e empiricamente fundamentado) cuja relevância deriva de seu papel nas práticas impulsionadas pelos valores predominantes e ascendentes de nossa época, e cujo âmbito explicativo (e, onde aplicável, antecipador e preditivo) é limitado aos fenômenos "significativos" para tais práticas e para uma articulação do mundo social (e natural) adequado para promover sua manutenção e extensão. Elas representam um modo de entendimento que reflete o "senso comum" ligado a esses valores, que carece de recursos conceituais para a definição de negatividades sistêmicas (sofrimentos com causas sistêmicas), que freqüentemente identifica tendências ascendentes atuais e regularidades sociais manifestas como leis da natureza humana, que geralmente não identifica as condições estruturais das ações e (das crenças) e assim exagera a significância (causal, e portanto, os merecimentos) das conquistas individuais, e que freqüentemente pressupõe que as únicas possibilidades viáveis para o futuro são aquelas realizáveis dentro nas estruturas prevalecentes. Este pressuposto pode parecer empiricamente confirmado, na medida em que as forças sociais informadas por ele impedem (ou restringem o espaço para) o desenvolvimento de possibilidades alternativas: porém na verdade ele permanece parte da "consciência não testada" deste modo de entendimento.

A neutralidade das ciências sociais. Hugh Lacey. Atividade científica e valores volume 1

Justiça social: nem social nem justa

 https://mises.org.br/artigos/3215/a-justica-social-nao-e-social-nem-justa

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

quarta-feira, 26 de abril de 2023

Direita e esquerda - livro Bobbio

Direita e Esquerda: Razoes e Significados de uma Distinção Politica

http://libgen.rs/search.php?req=Norberto+Bobbio+direita+esquerda&open=0&res=25&view=simple&phrase=1&column=def

Saúde mental, liberalismo e deficiência

1) A quais liberdades individuais o doente mental tem direito?

Os doentes mentais têm direito à liberdade de expressão, liberdade de religião, liberdade de reunião, liberdade de associação, liberdade de imprensa e direito à privacidade.

2) Internação psiquiátrica involuntária é a melhor forma de tratamento da crise?

Não, a internação psiquiátrica involuntária não é a melhor forma de tratamento para crises. A hospitalização psiquiátrica involuntária pode ser traumatizante e pode levar a danos físicos e psicológicos de longo prazo. É importante fornecer às pessoas em crise acesso a serviços e apoios de saúde mental que sejam voluntários e respeitosos com seus direitos.

3) Quais são os princípios do liberalismo social (esquerdismo nos EUA)?

O liberalismo social é uma filosofia política que enfatiza a liberdade individual e a justiça social. Baseia-se na crença de que o governo deve proteger os direitos individuais e promover a igualdade econômica e social. O liberalismo social também apóia a ideia de um estado de bem-estar, que fornece uma rede de segurança para aqueles que não conseguem se sustentar.

4) Como as pessoas com deficiência podem prosperar economicamente?

As pessoas com deficiência podem prosperar economicamente acessando os recursos e apoio disponíveis para elas. Isso inclui assistência do governo, como benefícios por incapacidade, e apoio ao emprego, como treinamento e colocação profissional. Além disso, as pessoas com deficiência podem se beneficiar de isenções fiscais e outros incentivos financeiros.

5) Como as pessoas com deficiência podem prosperar economicamente de acordo com o liberalismo econômico?

De acordo com o liberalismo econômico, as pessoas com deficiência podem prosperar economicamente tendo a oportunidade de trabalhar no mercado livre. Isso pode ser feito fornecendo-lhes o treinamento e apoio necessários para ingressar na força de trabalho, além de fornecer-lhes acesso a capital e outros recursos. Além disso, o liberalismo econômico defende a proteção dos direitos de propriedade privada, que podem ajudar as pessoas com deficiência a possuir e administrar seus próprios negócios.

6) Como as pessoas com deficiência podem prosperar economicamente através do trabalho de acordo com o liberalismo econômico?

As pessoas com deficiência podem prosperar economicamente por meio do trabalho de acordo com o liberalismo econômico, tendo a oportunidade de trabalhar no mercado aberto. Isso pode ser feito fornecendo-lhes treinamento e suporte necessários para competir no mercado de trabalho. Além disso, o liberalismo econômico defende a remoção de barreiras ao emprego, como discriminação e práticas trabalhistas injustas, que podem impedir pessoas com deficiência de acessar o mercado de trabalho.

7) Como os doentes mentais podem prosperar de acordo com o liberalismo clássico?

O liberalismo clássico acredita que os indivíduos devem ser livres para perseguir seus próprios interesses e que o governo não deve interferir nessa liberdade. Isso significa que os doentes mentais devem ser capazes de perseguir seus próprios interesses e objetivos, e o governo não deve interferir nisso. Isso pode significar fornecer recursos e apoio para ajudar os doentes mentais a atingir seus objetivos, bem como fornecer acesso a cuidados de saúde e outros serviços.

segunda-feira, 13 de março de 2023

A ciência de sucesso e a publicidade

A ciência de sucesso popular e econômico tem elementos de publicidade. Um dos princípios é estar um pouco atrás da vanguarda para poder ser entendido. Outro princípio é a solução de problemas de imagem associados a um produto (científico). A ciência tem participação na produção econômica. Relações públicas é um dos elementos disso. Outro princípio é conseguir se inculcar na mediação das relações cotidianas e virar cultura popular. A mídia passa a ser feita pelo público.

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Estatização da economia

O entusiasmo com a estatização da economia é motivado pela possibilidade de controle estatal, e portanto por decisões políticas, de quem vai prosperar e quem não vai. A burocracia controla toda a sociedade e produzir algo que as pessoas desejam (relações de troca) é o oposto desse projeto.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Algumas limitações das ciências sociais

1) Usam formulações mentalistas que descrevem a sociedade e a cultura de forma abstrata (pouco concreta) e ampla/abrangente.

2) Abominam falar em elementos naturais do comportamento humano. Acreditam que os "gestos" são completamente compreensíveis pelo social e incompatíveis com as descrições naturalistas. Os gestos para eles tem apenas conteúdo (mentalismo).

3) Abominam o behaviorismo radical/análise do comportamento que poderia contribuir na formulação de descrições concretas de processos biológicos e sociais.

4) Não acreditam em observação direta. Acreditam em observar a partir de olhar disciplinado por teorias ou ideologias. Isso pode levar não conseguir ver fatos físicos.

5) Muitas vezes dão a impressão que seus únicos clientes são as minorias, a esquerda e os movimentos sociais.

6) Defendem o "social" como sinônimo de algo bom e moral em detrimento do econômico ou de ideologias menos presentes na universidade como o liberalismo social e econômico.

7) Justificam, ou pelos os indivíduos agem assim, ideias sociais como status social e riso de comportamento percebido como anômalo que tem seu lado negativo e aspecto natural.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

A crítica à neutralidade científica na psicologia


Tecnociência Comercialmente Orientada e a Necessidade de Pesquisa Multiestratégica

https://www.youtube.com/watch?v=-bAzPe1Omms

A crítica à neutralidade científica na psicologia costuma ser utilizada para defender que a construção da ciência e suas aplicações devem ser guiadas por valores políticos e sociais (aqueles já presentes na universidade, os mais convenientes para construir carreiras e os mais influentes na mídia). A implicação do modelo de ciência e valores segundo essa palestra seria de que seria preciso variar os valores implícitos na construção da ciência e que a ciência deve ter o ideal de aplicação neutra (para o maior número de valores de pessoas e igualmente (inclusividade e equitatividade)). Por outro lado, a crítica à neutralidade científica na psicologia parece inspirada por um interesse de ativismo social e político (valores políticos e valores de interesses na aplicação) que o modelo de ciência e valores afirma que não devem afetar os valores cognitivos como critério único na condução imparcial de pesquisas, neutralidade cognitiva das pesquisas e na avaliação de teorias. Seria possível manter a crítica à neutralidade científica na psicologia mas aumentando a precisão de quais aspectos da ciência devem ser neutros e em quais os valores devem ser pluralistas. Ambos os aspectos não parecem estar sendo considerados dessa maneira atualmente.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Progressismo e liberalismo clássico: interesses ideológicos

Ideologias refletem grupos de interesse. Qual seriam os interesses concretos e os procedimentos das ideologias progressismo e liberalismo clássico?

Os procedimentos do liberalismo clássico são estabelecer boas instituições econômicas, sociais, civis e políticas para que as pessoas possam buscar as conquistas de seus interesses. As pessoas que optam pelo liberalismo clássico provavelmente se sentem capacitadas para realização e autonomia. Com boas instituições seria possível aumentar a quantidade e variedade de oportunidades de sucesso apesar das desigualdades. O papel dos intelectuais e dos funcionários públicos é menor nessa ideologia.

Os procedimentos do progressismo são a regulação e o subsídio estatais. Por conta de falhas de mercado, desvantagens de representação social, menos recursos iniciais e menos oportunidades essas pessoas preferem o apoio estatal. A busca é a igualdade no acesso a direitos sociais. Os funcionários públicos e os intelectuais podem justificar seu papel social e seus salários dessa maneira.

Então a opção ou concretização de uma ou outra ideologia é contingente às condições pré-requisito ou facilitadoras (ou o inverso).

sábado, 19 de novembro de 2022

Sociedade aberta - Popper / Medawar

 “Uma sociedade aberta, como a nossa, é uma sociedade na qual desacordo e dissidência, longe de serem proibidos, são usados ​​como instrumentos de melhoria social, pois é criticando a legislação pretendida antes que se torne estatutária que podemos esperar descobrir suas imperfeições a tempo de evitar cometer erros graves. Em uma sociedade aberta, as pessoas podem florescer em toda a sua rica e às vezes estranha diversidade de opiniões políticas, origens étnicas e crenças religiosas. Em uma sociedade fechada – Popper às vezes a chama de 'sociedade tribal' – estamos confinados pela submissão a forças políticas ou observâncias tribais. Somente uma 'sociedade aberta' liberta os poderes críticos do homem.” 

Peter Medawar, 'A Filosofia de Karl Popper'.

via página Karl Popper no facebook: https://www.facebook.com/popperian?__tn__=-UC*F

Diretriz para terapia com homens (BPS)

 https://cms.bps.org.uk/sites/default/files/2022-11/Practice%20Briefing%20-%20psychological%20interventions%20to%20help%20male%20adults.pdf

terça-feira, 11 de outubro de 2022

Desigualdade / Inequality (Sowell)

 https://youtu.be/HrMRDohqqys

Thomas Sowell explains the true nature of inequality and what people need to realize about inequality in our world.

This is an excerpt from 'Discrimination and Disparities'


sábado, 27 de agosto de 2022

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Espaço público plural

 "Assim, é importante a luta para mantermos e aumentarmos um espaço público plural, através de um debate de ideias responsável e realista que permita mostrar quais seriam as melhores alternativas possíveis para a realidade nacional, sejam estas de esquerda ou de direita, socialistas, liberais ou conservadoras. E isso só pode ser conseguido se a política e a democracia deixarem de ser vistas e vividas simplesmente como um meio, e forem também um fim, a saber, um espaço imprescindível de exercício da liberdade."

Texto Os nomes dos bois na política no livro Crônicas da pólis. Autores Selvino J. Assmann e Héctor Ricardo Leis

terça-feira, 21 de junho de 2022

Foundations: Their Power and Influence

 http://libgen.rs/book/index.php?md5=8083BC22C655D66CED7A93144F456763

(livro)

Title:Foundations: Their Power and Influence
Author(s):Rene A. Wormser

Year:1993
Language:English


This is a searching analysis of some of America's most powerful tax-exempt foundations, their actions as opposed to their stated purpose's, the interlocking groups of men who run them, and their influence on the country at large. The author, as counsel to the Reece Committee, which investigated foundations for the last Republican Congress, gained a unique insight into the inner workings of the various Rockefeller, Carnegie and Ford-created giants. He also witnessed the intense and powerful opposition to any investigation of these multi-billion-dollar public trusts. The Reece investigation was virtually hamstrung from the start to its early demise- which was aided and abetted by leading newspaper of the country. "It is difficult for the public to understand," writes Mr. Wormser, "that some of the great foundations which have done so much for us in some fields have acted tragically against the public interest in others, but the facts are there for the unprejudiced to recognize." "The power of the individual foundation giant is enormous. When there is like-mindedness among a group of these giants, which apparently is due to the existence of a closely knit group of professional administrators in the social science field, the power is magnified hugely. When such foundations do good, they justify the tax-exempt status which the people grant them. When they do harm, it can be immense harm - there is virtually no counter-force to oppose them."

quarta-feira, 15 de junho de 2022

O segredo do sucesso

É ainda outro grande analista da vida nacional quem confirma esses traços hierarquizantes do nosso sistema, percebendo a figura que, de certo modo, personaliza o "Você sabe com quem está falando?". Falo, evidentemente, de Machado de Assis e da sua desconhecida "Teoria do medalhão". Trata-se de um diálogo, publicado em 1882 em Papéis avulsos, entre um velho e experiente pai e seu filho de 21 anos. Ao completar o rapaz a maioridade, o pai não pode deixar de revelar ao rebento o supremo segredo do sucesso em nosso meio: tornar-se um medalhão. A "teoria do medalhão" é, pois, a fórmula indicada para a obtenção do sucesso num mundo social dominado pelo convencionalismo, pela ortodoxia das teorias e doutrinas, pela rigidez das práticas jurídicas, pelo modismo e conformismo que impedem as soluções originais e profundas. Numa palavra: pelo sistema hierarquizado, que põe tudo em seus lugares, sempre acha o lugar para todas as inovações, detesta examinar-se e, por meio de suas próprias forças e dinamismo, mudar o lugar das coisas que nele já existem. Diz, então, o pai:

Um discurso de metafísica política apaixona naturalmente os partidos e público, chama apartes e as respostas. E depois não obriga a pensar e descobrir. Neste ramo dos conhecimentos humanos tudo está acabado, formulado, rotulado, encaixotado (...). Em todo o caso, não transcendas nunca - completa o pai - os limites de uma invejável vulgaridade. [Logo em seguida, sugere ao rapaz o uso da expressão "filosofia da história"...] Uma boa locução que deves empregar com frequência, mas proíbo-te que chegues a outras conclusões que não sejam as já achadas por outros. Foge a tudo que possa cheirar a reflexão, originalidade, etc. etc.

Como se observa, são muitos os filhos desse zeloso pai.

Trecho do livro Você sabe com quem está falando? Estudos sobre o autoritarismo brasileiro do antropólogo Roberto DaMatta.

terça-feira, 3 de maio de 2022

Social Justice and the Language of Elites

 https://www.youtube.com/watch?v=mJKvIf9WjJY

Does social justice rhetoric help uplift the marginalized—or is it simply a game of elite virtue signaling that often ignores their perspectives?

sexta-feira, 29 de abril de 2022

Crise do Estado de bem-estar social

 https://cemap-interludium.org.br/wp-content/uploads/Habermas-nova-intranspar%C3%AAncia.pdf

Texto de Habermas

Esclarecedor da situação política atual.

"A política neoconservadora tem uma certa possibilidade de realização se ela encontrar uma base nessa sociedade cindida, segmentada, que ela mesma produz. Os grupos excluídos ou oprimidos à margem não dispõem de nenhum poder de veto, pois representam uma desarticulada minoria segregada do processo de produção. O padrão cada vez mais utilizado no quadro internacional entre a metrópole e a periferia subdesenvolvida parece reiterar-se no interior da sociedade capitalista desenvolvida: os poderes estabelecidos dependem cada vez menos do trabalho e da disposição de cooperação dos empobrecidos e privados de direitos para sua própria reprodução. Entretanto, uma política precisa não apenas poder se impor, ela tem de funcionar também. Mas um abandono definitivo dos compromissos sócio-estatais deixaria, necessariamente, vazios funcionais que só poderiam ser preenchidos através de repressão ou desamparo."

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Valores sociopolíticos e psicoterapia

Valores sociopolíticos: o fator negligenciado na psicoterapia culturalmente competente

R. E. Redding (*) Fowler School of Law, Chapman University, Orange, CA, EUA e-mail: redding@chapman escolhas .edu

 O papel dos valores sociopolíticos continua sendo um fator negligenciado na prática clínica. Muitos médicos cometem regularmente “má prática cultural” ao não levar em conta seus próprios valores sociopolíticos e os de seus clientes. No entanto, os valores sociopolíticos podem ser o fator mais importante a ser considerado em qualquer psicoterapia culturalmente competente que seja verdadeiramente centrada no cliente. Os valores sociopolíticos são frequentemente centrais para a personalidade e identidade de um cliente. Como tal, compreender os valores sociopolíticos de um cliente pode ser útil terapeuticamente, e uma congruência entre os valores sociopolíticos do terapeuta e do cliente pode melhorar o relacionamento terapêutico. Embora a falta de congruência de valores possa ser prejudicial ao relacionamento terapêutico, isso não precisa ser o caso se o terapeuta for culturalmente sensível. Como os profissionais de saúde mental se inclinam politicamente para a esquerda, eles devem estar cientes do fato de que seus clientes politicamente conservadores, libertários e centristas não compartilharão muitos de seus valores. Os clínicos devem ser sensíveis ao impacto que isso pode ter na aliança terapêutica e às formas como isso influencia seu diagnóstico e terapia. Garantir que os médicos sejam culturalmente sensíveis em relação aos valores sociopolíticos exigirá mudanças sistêmicas na forma como as profissões de saúde mental conceituam a prática cultural e eticamente competente, desenvolvem e avaliam padrões e diretrizes para a prática multicultural e recrutam e educam os médicos. Enquanto esses avanços estão se desenvolvendo, no entanto, os médicos podem adotar práticas para ajudar a garantir que serão culturalmente competentes ao trabalhar com clientes que têm valores sociopolíticos diferentes dos seus. 

Palavras-chave Crenças políticas · Competência cultural · Viés · Psicoterapia · Relação terapêutica

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Vladimir Putin sobre justiça social e URSS

PORTUGUÊS

Finalmente, você sabe que o próprio Vladimir Putin está capitalizando essa loucura despertada? Anna Mahjar-Barducci em MEMRI.org cobriu seu discurso recente. Cito a tradução do artigo: “Os defensores do chamado ‘progresso social’ acreditam que estão apresentando à humanidade algum tipo de consciência nova e melhor. Godspeed, içar as bandeiras, como dizemos, vá em frente. A única coisa que quero dizer agora é que suas prescrições não são nada novas. Pode ser uma surpresa para algumas pessoas, mas a Rússia já esteve lá. Após a revolução de 1917, os bolcheviques, apoiando-se nos dogmas de Marx e Engels, também disseram que mudariam os modos e costumes existentes, e não apenas políticos e econômicos, mas a própria noção de moral humana e os fundamentos de uma sociedade saudável . A destruição de valores antigos, religião e relações entre as pessoas, até e incluindo a rejeição total da família (também tivemos isso), encorajamento para informar (dedurar) os entes queridos - tudo isso foi proclamado progresso e, a propósito, foi amplamente apoiado em todo o mundo naquela época e estava bastante na moda, assim como hoje. A propósito, os bolcheviques eram absolutamente intolerantes com outras opiniões que não as deles. 

“Isto, acredito, deve trazer à mente um pouco do que estamos testemunhando agora. Olhando para o que está acontecendo em vários países ocidentais, ficamos surpresos ao ver as práticas domésticas – que, felizmente, deixamos, espero – no passado distante. A luta pela igualdade e contra a discriminação se transformou em um dogmatismo agressivo que beira o absurdo, quando as obras dos grandes autores do passado – como Shakespeare – não são mais ensinadas em escolas ou universidades, porque se acredita que suas ideias são retrógradas. Os clássicos são declarados atrasados ​​e ignorantes da importância de gênero ou raça. Em Hollywood, memorandos são distribuídos sobre a narrativa adequada e quantos personagens de que cor ou gênero devem estar em um filme. Isso é ainda pior do que o departamento de agitprop do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética”.

 Finally, do you know that Vladimir Putin himself is capitalizing on this woke madness? Anna Mahjar-Barducci at MEMRI.org covered his recent speech. I quote from the article’s translation: “The advocates of so-called ‘social progress’ believe they are introducing humanity to some kind of a new and better consciousness. Godspeed, hoist the flags, as we say, go right ahead. The only thing that I want to say now is that their prescriptions are not new at all. It may come as a surprise to some people, but Russia has been there already. After the 1917 revolution, the Bolsheviks, relying on the dogmas of Marx and Engels, also said that they would change existing ways and customs, and not just political and economic ones, but the very notion of human morality and the foundations of a healthy society. The destruction of age-old values, religion, and relations between people, up to and including the total rejection of family (we had that, too), encouragement to inform on loved ones — all this was proclaimed progress and, by the way, was widely supported around the world back then and was quite fashionable, same as today. By the way, the Bolsheviks were absolutely intolerant of opinions other than theirs. Advertisement This advertisement has not loaded yet, but your article continues below. Article content “This, I believe, should call to mind some of what we are witnessing now. Looking at what is happening in a number of Western countries, we are amazed to see the domestic practices — which we, fortunately, have left, I hope — in the distant past. The fight for equality and against discrimination has turned into aggressive dogmatism bordering on absurdity, when the works of the great authors of the past — such as Shakespeare — are no longer taught at schools or universities, because their ideas are believed to be backward. The classics are declared backward and ignorant of the importance of gender or race. In Hollywood, memos are distributed about proper storytelling and how many characters of what color or gender should be in a movie. This is even worse than the agitprop department of the Central Committee of the Communist Party of the Soviet Union.”


sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Neoliberalismo

Pragmaticamente e a nível pessoal a crítica ao neoliberalismo parece ser a ideia de que todos deveriam ser funcionários públicos e que ninguém deveria estar sujeito ao mercado. Indispor pessoas contra o mercado não parece favorecer que os excluídos tenham mais oportunidades, apesar de consequências negativas que o capitalismo possa produzir em certas situações.

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Transexualidade, Intersexualidade & Liberalismo

 https://www.youtube.com/watch?v=8yybsTMe3OY

No Brasil é muito comum que influenciadores da comunidade LGBTQI+ sejam marxistas, quando se fala de transexuais fica ainda mais difícil encontrar pessoas fora desse espectro. Entretanto nossa equipe conseguiu encontrar duas representantes da causa trans, sendo que uma delas intersexo que se consideram liberais.

terça-feira, 5 de outubro de 2021

Ciências sociais de esquerda: por que?

 https://www.youtube.com/watch?v=YQhvNnIpEEE

Adriano Paranaiba convida Marize Schons e Gustavo Maultasch para ajudar-nos a entender um pouco mais sobre a dominação da esquerda nas ciências sociais.

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Educação geral do Estado

 Uma educação geral do Estado é um mero artifício para moldar as pessoas para serem exatamente iguais: e como o molde em que as molda é o que agrada ao poder predominante no governo, seja este um monarca, um sacerdócio, uma aristocracia, ou a maioria da geração existente; na medida em que é eficiente e bem-sucedido, estabelece um despotismo sobre a mente, levando por tendência natural a um sobre o corpo. —John Stuart Mill

terça-feira, 7 de setembro de 2021

A ameaça da esquerda iliberal

 https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,the-economist-a-ameaca-da-esquerda-iliberal,70003831741

via Eli Vieira

Diversity, Inclusion, Equity

Diversity, Inclusion, Equity | James Lindsay

 https://www.youtube.com/watch?v=3jLNgLABuTw

via Twitter Eli Vieira

Irracionalidade política

 https://criticanarede.com/irracionalidadepolitica.html

Via Twitter Eli Vieira

Marxismo

 https://xibolete.org/marxismo/

Via Eli Vieira

SOBRE A DESIGUALDADE (Harry G. Frankfurt)

 https://www.travessa.com.br/sobre-a-desigualdade-1-ed-2016/artigo/000ae04f-4cee-4222-b1d5-a90009acf9d9

SOBRE A DESIGUALDADE - 1ªED.(2016)

autor: Harry G. Frankfurt

SINOPSE

A desigualdade económica suscita pouco consenso nos tempos que correm. No entanto, poucos argumentariam que a desigualdade é um mal maior do que a pobreza. Os pobres sofrem porque não têm o suficiente e não porque os outros têm muito. Neste livro provocador, o autor, um dos filósofos morais mais influentes da actualidade, apresenta uma resposta convincente e perturbadora para os que acreditam que o objectivo da justiça social deve ser a igualdade económica ou menos desigualdade. Argumenta que estamos moralmente obrigados a eliminar a pobreza, não a alcançar a igualdade ou a diminuir a desigualdade. Devemos estar focados em garantir que todos têm dinheiro suficiente para viver uma vida decente. Focar-se, ao invés, na desigualdade é perturbador e alienante. Se nos dedicarmos a garantir que todos tenham o suficiente, podemos reduzir a desigualdade como um efeito colateral. Contudo, sublinha que é essencial considerar que o objectivo último da justiça é acabar com a pobreza, e não com a desigualdade. Trata-se de um livro com grande impacto num dos grandes debates do nosso tempo.

Via Eli Vieira

http://libgen.rs/book/index.php?md5=1C1242A9938F33258734DD7FF8B05545

http://libgen.rs/book/index.php?md5=A7833D835C768E800C5181B6E4E919E0

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Feminismo como sexismo

Feminismo como sexismo


David Benatar - The Second Sexism

Janet Radcliffe Richards - The Sceptical Feminist

Daphne Patai & Noretta Koertge - Professing Feminism


via twitter de Eli Vieira

terça-feira, 17 de agosto de 2021

A miragem da justiça social (Hayek)

 http://libgen.rs/book/index.php?md5=09A2E27758607FE5F8BAF44D5BEF9121


Title:A Miragem da Justiça SocialVolume: 2
Author(s):F. A. Hayek
Series:Direito, Legislação e Liberdade: Uma nova formulação dos princípios liberais de justiça e economia políticaPeriodical:
Publisher:VisãoCity:São Paulo
Year:1985Edition:
Language:Portuguese

The Superior Virtue of the Oppressed (Bertrand Russell)

 The Superior Virtue of the Oppressed

Bertrand Russell. Unpopular Essays.

One of the persistent delusions of mankind is that some sections of the human race are morally better or worse than others. This belief has many different forms, none of which has any rational basis. It is natural to think well of ourselves, and thence, if our mental processes are simple, of our sex, our class, our nation, and our age. But among writers, especially moralists, a less direct expression of self-esteem is common. They tend to think ill of their neighbors and acquaintances, and therefore to think well of the sections of mankind to which they themselves do not belong.

Lao-tse admired the "pure men of old," who lived before the advent of Confucian sophistication. Tacitus and Madame de Staël admired the Germans because they had no emperor. Locke thought well of the "intelligent American" because he was not led astray by Cartesian sophistries.

A rather curious form of this admiration for groups to which the admirer does not belong is the belief in the superior virtue of the oppressed: subject nations, the poor, women, and children. The eighteenth century, while conquering America from the Indians, reducing the peasantry to the condition of pauper laborers, and introducing the cruelties of early industrialism, loved to sentimentalize about the "noble savage" and the "simple annals of the poor." Virtue, it was said, was not to be found in courts: but court ladies could almost secure it by masquerading as shepherdesses. And as for the male sex:

Happy the man whose wish and care

A few paternal acres bound.

Nevertheless, for himself Pope preferred London and his villa at Twickenham.

At the French Revolution the superior virtue of the poor became a party question, and has remained so ever since. To reactionaries they became the "rabble'* or the "mob." The rich discovered, with surprise, that some people were so poor as not to own even "a few paternal acres." Liberals, however, still continued to idealize the rural poor, while intellectual

Socialists and Communists did the same for the urban proletariat—a fashion to which, since it only became important in the twentieth century, I shall return later.

Nationalism introduced, in the nineteenth century, a substitute for the noble savage—the patriot of an oppressed nation. The Greeks until they had achieved liberation from the

Turks, the Hungarians until the Ausgleich of 1867, the Italians until 1870, and the Poles until after the 1914-18 war were regarded romantically as gifted poetic races, too idealistic to succeed in this wicked world. The Irish were regarded by the

English as possessed of a special charm and mystical insight until 1921, when it was found that the expense of continuing to oppress them would be prohibitive. One by one these various nations rose to independence, and were found to be just like everybody else; but the experience of those already liberated did nothing to destroy the illusion as regards those who were still struggling. English old ladies still sentimentalize about the "wisdom of the East" and American intellectuals about the "earth consciousness" of the Negro.

Women, being the objects of the strongest emotions, have been viewed even more irrationally than the poor or the subject nations. I am thinking not of what poets have to say but of the sober opinions of men who imagine themselves rational.

The church had two opposite attitudes: on the one hand, woman was the Temptress, who led monks and others into sin; on the other hand, she was capable of saintliness to an almost greater degree than man. Theologically, the two types were represented by Eve and the Virgin. In the nineteenth century the temptress fell into the background; there were, of course, "bad" women, but Victorian worthies, unlike St. 

Augustine and his successors, would not admit that such sinners could tempt them, and did not like to acknowledge their existence. A kind of combination of the Madonna and the lady of chivalry was created as the ideal of the ordinary married woman. She was delicate and dainty, she had a bloom which would be rubbed off by contact with the rough world, she had ideals which might be dimmed by contact with wickedness; like the Celts and the Slavs and the noble savage, but to an even greater degree, she enjoyed a spiritual nature, which made her the superior of man but unfitted her for business or politics or the control of her own fortune. This point of view is still not entirely extinct. Not long ago, in reply to a speech I had made in favor of equal pay for equal work, an English schoolmaster sent me a pamphlet published by a schoolmasters' association, setting forth the opposite opinion, which it supports with curious arguments. It says of woman: "We gladly place her first as a spiritual force; we acknowledge and reverence her as the 'angelic part of humanity'; we give her superiority in all the graces and refinements we are capable of a human beings; we wish her to retain all her winsome womanly ways." "This appeal"—that women should be content with lower rates of pay—"goes forth from us to them," so we are assured, "in no selfish spirit, but out of respect and devotion to our mothers, wives, sisters, and daughters. . . . Our purpose is a sacred one, a real spiritual crusade."

Fifty or sixty years ago such language would have roused no comment except on the part of a handful of feminists; now, since women have acquired the vote, it has come to seem an anachronism. The belief in their "spiritual" superiority was part and parcel of the determination to keep them inferior economically and politically. When men were worsted in this battle, they had to respect women, and therefore gave up offering them "reverence" as a consolation for inferiority.

A somewhat similar development has taken place in the adult view of children. Children, like women, were theologically wicked, especially among evangelicals. They were limbs of Satan, they were unregenerate; as Dr. Watts so admirably put it:

One stroke of His almighty rod

Can send young sinners quick to Hell.

It was necessary that they should be "saved." At Wesley's school "a general conversion was once effected, . . . one poor boy only excepted, who unfortunately resisted the influence of the Holy Spirit, for which he was severely flogged. . . ."

But during the nineteenth century, when parental authority, like that of kings and priests and husbands, felt itself threatened, subtler methods of quelling insubordination came into vogue. Children were "innocent"; like good women they had a "bloom"; they must be protected from knowledge of evil lest their bloom should be lost. Moreover, they had a special kind of wisdom. Wordsworth made this view popular among English-speaking people. He first made it fashionable to credit children with tHigh instincts before which our mortal nature

Did tremble like a guilty thing surprised. No one in the eighteenth century would have said to his littledaughter, unless she were dead:

Thou liest in Abraham's bosom all the year

And worships't at the temple's inner shrine.

But in the nineteenth century this view became quite common; and respectable members of the Episcopal church—or even of the Catholic church—shamelessly ignored Original Sin to dally with the fashionable heresy that

... trailing clouds of glory do we come

From God who is our home:

Heaven lies about us in our infancy.


This led to the usual development. It began to seem hardly right to spank a creature that was lying in Abraham's bosom, or to use the rod rather than "high instincts" to make it "tremble like a guilty thing surprised." And so parents and schoolmasters found that the pleasures they had derived from inflicting chastisement were being curtailed and a theory of education grew up which made it necessary to consider the child's welfare, and not only the adult's convenience and sense of power.

The only consolation the adults could allow themselves was the invention of a new child psychology. Children, after being limbs of Satan in traditional theology and mystically illuminated angels in the minds of educational reformers, have reverted to being little devils—not theological demons inspired by the Evil One, but scientific Freudian abominations inspired by the Unconscious. They are, it must be said, far more wicked than they were in the diatribes of the monks; they display, in modern textbooks, an ingenuity and persistence in sinful imaginings to which in the past there was nothing comparable except St. Anthony. Is all this the objective truth at last? Or is merely an adult imaginative compensation for being no longer allowed to wallop the little pests? Let the Freudians answer, each for the others.

As appears from the various instances that we have considered, the stage in which superior virtue is attributed to the oppressed is transient and unstable. It begins only when the oppressors come to have a bad conscience, and this only happens when their power is no longer secure. The idealizing of the victim is useful for a time: if virtue is the greatest of goods, and if subjection makes people virtuous, it is kind to refuse them power, since it would destroy their virtue. If it is difficult for a rich man to enter the kingdom of heaven, it is a noble act on his part to keep his wealth and so imperil his eternal bliss for the benefit of his poorer brethren. It was a fine self-sacrifice on the part of men to relieve women of the dirty-work of politics. And so on. But sooner or later the oppressed class will argue that its superior virtue is a reason in favor of its having power, and the oppressors will find their own weapons turned against them. When at last power has been equalized, it becomes apparent to everybody that all the talk about superior virtue was nonsense, and that it was quite unnecessary as a basis for the claim to equality.

In regard to the Italians, the Hungarians, women, and children, we have run through the whole cycle. But we are still in the middle of it in the case which is of the most importance at the present time—namely, that of the proletariat. 

Admiration of the proletariat is very modern. The eighteenth century, when it praised "the poor," thought always of the rural poor. Jefferson's democracy stopped short at the urban mob; he wished America to remain a country of agriculturists. 

Admiration of the proletariat, like that of dams, power stations, and airplanes, is part of the ideology of the machine age.

Considered in human terms, it has as little in its favor as belief in Celtic magic, the Slav soul, women's intuition, and children's innocence. If it were indeed the case that bad nourishment, little education, lack of air and sunshine, unhealthy housing conditions, and overwork produce better people than are produced by good nourishment, open air, adequate education and housing, and a reasonable amount of leisure, the whole case for economic reconstruction would collapse, and we could rejoice that such a large percentage of the population enjoys the conditions that make for virtue. But obvious as this argument is, many Socialist and Communist intellectuals consider it de rigueur to pretend to find the proletariat more amiable than other people, while professing a desire to abolish the conditions which, according to them, alone produce good human beings. Children were idealized by Wordsworth and un-idealized by Freud. Marx was the Wordsworth of the proletariat; its Freud is still to come.

"Justiça Social" e "Direitos Sociais" (Hayek)

No livro Arrogância fatal. Hayek.

(Pode parecer uma conclusão chocante para quem cresceu ouvindo sobre esses termos na universidade e na mídia como os objetivos da educação, da profissão e da ciência. Mas é preciso entender o fundamento do raciocínio de Hayek que talvez não seja compreensível de maneira tão sucinta.)


 "Justiça Social" e "Direitos Sociais"


A pior maneira de empregar o adjetivo ''social'', termo que destrói

totalmente o significado de qualquer palavra que qualifica, é a expressão

de uso quase que universal "justiça social". Embora já tenha tratado

dessa questão com certa minuciosidade, principalmente no segundo

volume de A Miragem da Justiça Social, no livro Direito. Legislação e

Liberdade, preciso voltar ainda que sucintamente à questão, pois ela

desempenha um papel importante nos argumentos a favor e contra o

socialismo. A expressão ''justiça social'', como um ilustre indivíduo

mais corajoso do que eu disse rudemente, sem muitas cerimônias há

muito tempo, não passa de ''um logro semântico da mesma espécie de

democracia popular'' (Curran, 1958:8). O grau alarmante em que o termo

já parece ter pervertido o pensamento da geração mais jovem está

demonstrado numa recente tese de um doutor de Oxford, 'Social Justice '

(Miller, 1976), na qual se faz referência ao conceito tradicional de justiça

com a extraordinária observação de que ''parece existir uma categoria

de justiça privada''.

Já vi sugerido que ''social'' se aplica a tudo que reduz ou acaba com

as diferenças de renda. Mas, por que chamar essa ação "social"? Talvez

por ser um método para garantir maiorias, ou seja, mais votos do que

esperamos obter por outras razões? Parece que é assim mesmo, mas

também significa, é claro, que toda exortação para que sejamos'' sociais''

é um apelo para que se avance rumo à "justiça social" do socialismo.160

A Arrogância Fatal

Portanto, o emprego do termo' 'social'' torna-se praticamente equivalen-

te à exortação à' 'justiça distributiva''. No entanto, isto é irreconciliável

com uma ordem de mercado competitiva e com o desenvolvimento ou

até mesmo a manutenção da população e da riqueza. Assim, por causa

destes erros, as pessoas passaram a chamar "social" o que constitui o

principal obstáculo à própria manutenção da "sociedade". O "social"

deveria em realidade ser chamado · 'anti -social''.

Provavelmente é verdade que os homens seriam mais felizes em

termos de suas condições econômicas, se sentissem que as posições

relativas dos indivíduos são justas. Contudo, todo o conceito contido na

expressão justiça distributiva- pela qual cada indivíduo deveria receber

o que moralmente merece - está desprovido de sentido na ordem

espontânea da cooperação humana (ou da catalaxis ), porque o produto

disponível (sua dimensão e inclusive sua existência) depende em certo

sentido de uma forma moralmente indiferente de alocar suas partes. Por

razões já examinadas, o deserto moral não pode ser determinado objeti-

vamente. e em todo caso a adaptação do todo maior aos fatos a serem

descobertos exige que aceitemos que'' sucesso se baseia nos resultados,

não na motivação" (Alchian, 1950:213). Qualquer sistema amplo de

cooperação deve se adaptar constantemente às mudanças de seu meio

natural (que inclui a vida, a saúde e a força de seus membros); é ridículo

exigir que só devam ocorrer mudanças cujo efeito seja justo. Quase tão

ridículo quanto a convicção de que a organização deliberada da resposta

a tais mudanças possa ser justa. A humanidade nem poderia ter alcançado

e tampouco manter agora sua dimensão atual sem uma desigualdade que

não é determinada nem se concilia com qualquer juízo moral deliberado.

O esforço evidentemente melhorará as chances individuais, mas o esforço

apenas não pode garantir resultados. A inveja daqueles que se esforçaram

com o mesmo afinco, embora plenamente compreensível, contraria o

interesse comum. Portanto, se o interesse comum é realmente nosso

interesse, não devemos ceder a este aspecto instintivo bastante humano,

mas ao contrário, permitir que o processo de mercado determine a

recompensa. Ninguém pode avaliar, salvo por intermédio do mercado, a

dimensão de uma contribuição individual ao produto global, tampouco

seria possível determinar, de outro modo, que remuneração deve ser

proposta a alguém para que possa escolher a atividade mediante a qual

poderá prestar uma contribuição maior ao fluxo de bens e serviços

oferecidos em conjunto. É claro que se estes últimos são considerados

moralmente bons, o mercado passa a produzir um resultado suprema-

mente moral. A humanidade está dividida em dois grupos hostis por

promessas que não têm um conteúdo realizável. Os motivos desse

conflito não podem ser dissipados pelo compromisso, pois toda concessão

 ao erro factual simplesmente cria novas expectativas irrealizáveis.

Contudo, uma ética anticapitalista continua evoluindo sobre a base de

erros cometidos por pessoas que condenam as instituições geradoras de

riqueza às quais elas próprias devem sua existência. Fingindo-se amigas

da liberdade elas condenam a propriedade particular, o contrato, a

concorrência: a propaganda, o lucro, e até o dinheiro. Imaginando que

sua razão pode lhes dizer como organizar os esforços humanos para

atender melhor aos seus desejos inatos, elas representam uma grave

ameaça à civilização.

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Ser funcionário público

Imagino que uma das características desejadas em ser funcionário público é poder obrigar as pessoas a aceitar o trabalho realizado.

Psicologia e política (Bertrand Russell)



Bertrand Russell. Ensaios céticos.

Psicologia e política

Discutirei neste ensaio o tipo de efeitos que a psicologia terá em breve na política. Proponho abordar tanto os possíveis efeitos positivos quanto os prováveis efeitos perniciosos.

As opiniões políticas não se baseiam na razão. Mesmo um assunto tão técnico como o retorno do padrão-ouro foi determinado fundamentalmente por sentimento e, de acordo com os psicanalistas, esse sentimento não pode ser mencionado em uma sociedade instruída. Agora, os sentimentos de um adulto compõem-se de um núcleo de instinto rodeado por um amplo invólucro de educação. Um dos caminhos pelos quais a educação atua é pela influência na imaginação. Todos querem ver-se a si mesmos como boas pessoas e, assim, seus esforços, tais como suas ilusões, são influenciados pelo que considera o melhor possível para atingir seu objetivo. Penso que o estudo da psicologia pode alterar nossa concepção de uma “pessoa boa”; caso isso aconteça, é óbvio que seus efeitos na política serão profundos. Duvido que alguém que tenha aprendido psicologia moderna na juventude possa parecer-se ao falecido lorde Curzon ou ao atual bispo de Londres.

No tocante à ciência, há dois tipos de efeitos que devemos observar. Por um lado, os especialistas podem realizar invenções ou descobertas passíveis de serem utilizadas pelos detentores do poder. Por outro, a ciência é capaz de influenciar a imaginação e, desse modo, alterar as analogias e as expectativas das pessoas. Existe, estritamente falando, um terceiro tipo de efeito, ou seja, uma mudança na maneira de viver com todas as conseqüências dos avanços científicos. No caso da física, todas as três classes de efeitos são, hoje, claramente desenvolvidas. A primeira é ilustrada pelos aviões, a segunda pela visão mecanicista da vida, e a terceira pela substituição, por grande parte da população, da agricultura e do campo pela indústria e pela vida urbana. No caso da psicologia, ainda dependemos de profecia no que concerne à maioria dos seus efeitos. A profecia é sempre temerária, porém é mais acentuada com relação aos efeitos do primeiro e do terceiro tipos do que àqueles que dependam de uma mudança da perspectiva imaginativa. Portanto, falarei primeiro e com mais relevância sobre os efeitos deste último ponto de vista.

Algumas poucas palavras referentes a outros períodos da história podem ajudar a criar o cenário. Na Idade Média, cada questão política era determinada por argumentos teológicos, que assumiam a forma de analogias. A controvérsia predominante era entre o papa e o imperador: definiu-se que o papa simbolizava o Sol e o imperador a Lua e, então, o papa venceu. Seria um erro argumentar que o papa venceu porque tinha exércitos melhores; ele obteve seus exércitos pelo poder persuasivo da analogia Sol-e-Lua e com os frades franciscanos atuando como sargentos recrutadores. Isso é o tipo de ação que na verdade movimenta massas humanas e decide eventos importantes. Nos dias de hoje, algumas pessoas pensam que a sociedade é uma máquina e outras a vêem como uma árvore. As primeiras são os fascistas, os imperialistas, os industriais, os bolcheviques; as segundas são os constitucionalistas, agrarianistas ou os pacifistas. O argumento é tão absurdo como o dos guelfos e dos guibelinos, visto que a sociedade não é nem uma máquina nem uma árvore.

Com a Renascença, vivenciamos uma nova influência, a da literatura, em especial da literatura clássica. Isso continua até hoje, sobretudo entre aqueles que ingressam nas escolas públicas e nas antigas universidades. Quando o professor Gilbert Murray tem de formar uma opinião acerca de uma questão política, percebe-se que sua primeira reação é se questionar: “O que Eurípides disse sobre esse assunto?”. Mas essa visão não é mais dominante no mundo. Predominou na Renascença e ao longo do século XVIII até a Revolução Francesa. Os oradores revolucionários apelavam constantemente para os brilhantes exemplos de virtude dos romanos, e imaginavam-se vestidos com togas. Escritores como Montesquieu e Rousseau tiveram uma influência ainda não superada por qualquer escritor. Pode-se dizer que a Constituição Americana representa a concepção de Montesquieu para a Constituição Britânica. Não tenho conhecimentos jurídicos suficientes para delinear a influência que a admiração por Roma exerceu no Código Napoleônico.

Com a Revolução Industrial, avançamos para uma nova era – a era da física. Cientistas, em especial Galileu e Newton, prepararam caminho para essa nova época, mas o que veio à luz foi a personificação da ciência na técnica econômica. A máquina é um objeto muito peculiar: funciona de acordo com as leis científicas conhecidas (de outra forma não seria construída) para um propósito definido externamente e diz respeito ao homem, em geral, com a vida física deste. Sua relação com o homem é a mesma que o mundo tinha com Deus na teologia calvinista; talvez tenha sido por isso que o industrialismo foi criado pelos protestantes e pelos não-conformistas, e não pelos anglicanos. A analogia da máquina teve um profundo efeito em nosso pensamento. Falamos de uma visão “mecânica” do mundo, uma explanação “mecânica” e assim por diante, significando nominalmente uma explanação em termos de leis físicas, mas introduzindo, talvez de modo inconsciente, o aspecto teológico de uma máquina, ou seja, sua devoção a um fim externo. Assim, se a sociedade é uma máquina, pensamos que ela tem um propósito externo. Não mais nos satisfazemos em afirmar que ela existe pela glória de Deus, porém é fácil achar sinônimos para Deus tais como: o Bank of England, o Império Britânico, a Standard Oil Company, o Partido Comunista, etc. Nossas guerras são conflitos entre esses sinônimos – é a analogia medieval Sol-e-Lua de novo.

O poder da física deveu-se ao fato de ser uma ciência muito precisa, que alterou profundamente a vida cotidiana. Mas essa alteração originou-se pela atuação no ambiente, não no homem em si. Caso houvesse uma ciência igualmente definida e capaz de modificar o homem de forma direta, a física restaria na sombra. Isso é o que pode ocorrer com a psicologia. Até há pouco tempo, a psicologia era uma verborragia filosófica sem importância – o saber acadêmico que estudei na juventude não merecia ter sido aprendido. Mas agora existem dois modos de abordar a psicologia que são, sem dúvida, relevantes: o dos fisiologistas e o dos psicanalistas. À medida que os resultados nessas duas direções tornam-se mais precisos e corretos, torna-se evidente que a psicologia irá dominar cada vez mais a perspectiva do homem.

Vamos examinar o caso da educação. Antigamente, pensava-se que a educação deveria começar por volta dos oito anos, com o aprendizado das declinações latinas; o que aconteceria depois era considerado sem importância. Esse ponto de vista, na essência, parece ainda predominante no Partido Trabalhista, que quando no poder, interessou-se muito mais em aperfeiçoar a educação após os quatorze anos do que em criar escolas maternais. Com a concentração na educação tardia surgiu um certo pessimismo quanto aos seus poderes: pensava-se que tudo o que ela poderia realizar seria preparar um homem para ganhar seu sustento. No entanto, a tendência científica atribui mais poder à educação do que no passado, só que começando muito cedo. Os psicanalistas a iniciariam ao nascer; os biólogos, ainda mais cedo. É possível educar um peixe a ter um olho no meio em vez de dois olhos, um de cada lado (Jennings, Prometheus, p. 60). Mas para obter esse resultado é preciso começar bem antes do seu nascimento. Até agora, existem dificuldades em relação à educação pré-natal dos mamíferos, porém é provável que sejam superadas.

Contudo, você poderá objetar que estou usando o termo “educação” em um sentido muito bizarro. O que há em comum entre deformar um peixe e ensinar a um menino gramática latina? Devo dizer que me parecem muito similares: ambos são danos desumanos infligidos pelo prazer da experimentação. Talvez, entretanto, isso dificilmente seja uma definição da educação. A essência da educação é que há uma mudança (outra que não a morte) efetuada em um organismo para satisfazer às aspirações do executor. É claro, o executante diz que seu desejo é proporcionar uma condição melhor para o aluno, mas essa afirmação não representa qualquer fato verificável de modo objetivo.

Hoje, existem muitas maneiras de modificar um organismo. Pode-se mudar sua anatomia, como no caso do peixe que perdeu um olho, ou no de um homem que perdeu o apêndice. É possível alterar seu metabolismo, por exemplo, com medicamentos, e mudar seus hábitos ao criar associações. A instrução comum é um aspecto particular desta última proposição. Atualmente, tudo na educação, com exceção da instrução, é mais fácil de executar quando o organismo é muito jovem, pois é maleável. Em seres humanos, o tempo importante para a educação é o da concepção até ao final do quarto ano. Mas, como já observei, a educação pré-natal ainda não é possível, embora venha a ser factível antes do final deste século.

Existem dois métodos principais para a educação infantil prematura: um por meio de químicas e o outro por sugestão. Quando digo “químicas” talvez seja visto como um materialista indevido. No entanto, ninguém pensaria isso se eu houvesse falado “É claro que uma mãe cuidadosa daria ao bebê uma dieta mais completa disponível”, que é apenas uma maneira mais longa de dizer a mesma coisa. Contudo, estou interessado em possibilidades mais ou menos sensacionais. É possível constatar que o acréscimo de remédios adequados à dieta, ou a injeção intravenosa de substâncias corretas aumentarão a inteligência ou modificarão a natureza emocional. Todos conhecemos a conexão entre o retardo mental grave e a ausência de iodo. Talvez vejamos que os homens inteligentes foram aqueles que, na tenra infância, ingeriram pequenas quantidades de algum composto raro em sua dieta devido à falta de limpeza nos potes e panelas. Ou talvez a dieta da mãe durante a gestação tenha sido o fator decisivo. Desconheço esse assunto; somente observo que sabemos mais sobre a educação de salamandras do que sobre a dos seres humanos, sobretudo porque não imaginamos que salamandras têm almas.

O lado psicológico de uma educação prematura não pode ser estimulado antes do nascimento, uma vez que diz respeito à formação de hábitos, e hábitos adquiridos antes do nascimento são, na maioria, inúteis depois. Mas penso que, sem dúvida, existe enorme influência dos primeiros anos na formação do caráter. Há uma certa oposição, para mim bastante desnecessária, entre aqueles que acreditam em intervir na mente através do corpo, e os que crêem em tratá-la de modo direto. O médico ultrapassado, embora seja um cristão convicto, tende a ser materialista; segundo ele, os estados mentais são provocados por causas físicas e devem ser curados pela eliminação dessas causas. O psicanalista, ao contrário, sempre procura as causas psicológicas e tenta exercer ação sobre elas. Toda essa questão alia-se ao dualismo mente e matéria, o que considero um erro. Algumas vezes é mais fácil descobrir o tipo de antecedente, o qual chamamos de físico; em outras, o que denominamos de causa psicológica pode ser descoberta com mais facilidade. Entretanto, suponho que ambas sempre existiram, e que é racional lidar com a que se descobrir com mais facilidade em um caso particular. Não há inconsistência em tratar um caso com a administração de iodo e o outro curando a fobia.

Ao tentar ter uma visão psicológica da política, é natural que comecemos a procurar os impulsos fundamentais dos seres humanos comuns e as maneiras pelas quais eles podem ser desenvolvidos pelo ambiente que os cerca. Há cem anos, os economistas ortodoxos pensavam que a cobiça era o único motivo de preocupação de um político; esse ponto de vista foi adotado por Marx e formou a base de sua interpretação econômica da história. Advém naturalmente da física e do industrialismo: foi a conseqüência da dominação criativa da física em nossa época. Agora, é apoiado pelos capitalistas e comunistas e por todas as instituições e pessoas respeitáveis, tais como o Times ou os magistrados que manifestam uma surpresa total quando mulheres jovens sacrificam seus rendimentos para casar com homens desempregados. De acordo com o ponto de vista vigente, a felicidade é proporcional à renda, e uma mulher solteira idosa deve ser mais feliz do que uma mulher pobre casada. A fim de tornar isso realidade, fazemos todo o possível para infligir sofrimento a esta última.

Em oposição à ortodoxia e ao marxismo, a psicanálise declara que o impulso fundamental é o sexo. Ganância, dizem, é um desenvolvimento mórbido de uma certa perversão sexual. É óbvio que as pessoas que acreditam nessa premissa agirão de modo muito diferente daquelas que têm um ponto de vista econômico. Todas as pessoas, exceto determinados casos patológicos, desejam ser felizes, mas a maioria aceita alguma teoria atual acerca do que consiste a felicidade. Se as pessoas pensam que a riqueza constitui felicidade, elas não se comportarão em relação ao sexo como algo essencial. Não creio que essas perspectivas sejam de todo verdadeiras, mas com certeza penso que a última é menos prejudicial. O que emerge é a importância de uma teoria correta do que constitui a felicidade. Se uma teoria errada prevalecer, os homens bem-sucedidos serão infelizes sem saber o motivo. Esse fato os enraivece e os leva a desejar o massacre dos homens jovens a quem invejam de modo inconsciente. Grande parte da política moderna baseada em especial na economia tem origem, na verdade, na ausência da satisfação dos instintos; e essa falta, por sua vez, é enormemente devida a uma falsa psicologia popular.

Não creio que o sexo preencha todas as premissas. Na política, sobretudo, o sexo é muito importante quando reprimido. Na guerra, as solteironas desenvolvem uma ferocidade em parte atribuída à indignação aos jovens que as negligenciaram. Elas são também absurdamente belicosas. Lembro-me que logo após o Armistício ao cruzar a ponte Saltash de trem vi muitos navios de guerra ancorados embaixo. Duas solteironas idosas no vagão voltaram-se uma para outra e murmuraram: “Não é triste vê-los ociosos!”. Mas o sexo satisfeito cessa de influenciar em demasia a política. Cabe mencionar que tanto a fome quanto a sede exercem uma ascendência maior do ponto de vista político. A criação dos filhos é extremamente importante em razão da relevância da família; Rivers sugere até mesmo que isso é a fonte da propriedade privada. Porém, nem a paternidade nem a maternidade podem ser confundidas com sexo.

Além dos impulsos que servem à preservação e à propagação da vida, há outros que dizem respeito ao que podemos chamar de Glória: amor ao poder, vaidade e rivalidade. Esses ímpetos, é óbvio, exercem um grande papel na política. Se a política algum dia permitir uma vida tolerável, esses impulsos gloriosos devem ser controlados e ensinados a ocupar apenas o lugar que lhes cabe.

Nossos impulsos fundamentais não são nem bons nem ruins: na verdade, são eticamente neutros. A educação deve ter como objetivo moldá-los de modo benéfico. O antigo método, ainda adorado pelos cristãos, era o de reprimir o instinto; o novo método consiste em treiná-lo. Como, por exemplo, o amor ao poder: é inútil pregar a humildade cristã, que só leva o impulso a tomar formas hipócritas. O que deve ser feito é prover alternativas benéficas para ele. O impulso original intrínseco pode ser correspondido de milhares de maneiras – opressão, política, negócios, arte, ciência, todos o satisfazem quando praticados com sucesso. Um homem escolherá a saída para seu amor ao poder que corresponda à sua capacidade; de acordo com o tipo de formação que lhe foi dado na juventude, ele escolherá uma ocupação ou outra. A finalidade de nossas escolas públicas é a de ensinar a técnica da opressão e nada mais; por conseguinte, elas formam homens que assumem o fardo do homem de raça branca. Mas se esses homens pudessem se dedicar à ciência, muitos deles iriam preferi-la. Das duas atividades que um homem dominou ele, em geral, preferirá a mais difícil; nenhum jogador de xadrez jogará jogos medíocres. Desse modo, a aptidão pode contribuir para a virtude.

Como outra ilustração, vejamos o medo. Rivers enumera quatro tipos de reação ao perigo, cada uma delas apropriada em determinadas circunstâncias:

I Medo e Fuga;

II Raiva e Luta;

III Atividade manipuladora;

IV Paralisia;

É óbvio que a terceira reação é a melhor, mas ela requer um tipo apropriado de habilidade. A segunda é louvada pelos militares, professores, bispos, etc. sob o nome de “coragem”. Qualquer classe governante visa a fomentá-la em seus próprios membros, assim como a disseminar o medo e a fuga na população. Então as mulheres são, até os dias de hoje, cuidadosamente treinadas para serem medrosas. E constata-se ainda no trabalho um complexo de inferioridade, que assume a forma de esnobismo e submissão social.

É extremamente assustador pensar que a psicologia colocará novas armas nas mãos dos detentores do poder. Eles serão capazes de inculcar timidez e docilidade, e tornar as massas cada vez mais semelhantes a animais domésticos. Quando menciono os detentores do poder, não estou me referindo apenas aos capitalistas – incluo todos os funcionários, mesmo os dos sindicatos e dos partidos trabalhistas. Cada funcionário, cada homem em uma posição de autoridade quer que seus seguidores sejam dóceis; indigna-se quando seus adeptos insistem em ter suas próprias idéias sobre que constitui a felicidade para eles, em vez de serem gratos pelo que ele é capaz o suficiente de prover. No passado, o princípio da hereditariedade assegurava que muitas das classes governadas deveriam ser preguiçosas e incompetentes, o que dava a outras uma oportunidade. Porém, se a classe governada deve recrutar os mais enérgicos de cada geração, que ascenderiam por seus próprios esforços, a perspectiva para os mortais comuns é lúgubre. É penoso constatar como neste mundo alguém possa defender os direitos dos preguiçosos, isto é, aqueles que não desejam interferir na vida de outras pessoas. Parece que pessoas calmas terão de aprender o destemor e a energia na juventude para ter alguma chance em um mundo onde todo o poder é a recompensa do arrojo e da firmeza dos atos. Talvez a democracia seja uma fase passageira; nesse caso, a psicologia servirá para fortalecer as cadeias dos servos. Esse fato faz com que seja importante salvaguardar a democracia antes que a técnica da opressão seja aperfeiçoada.

Retornando aos três efeitos da ciência que enumerei no início, é claro que não podemos imaginar que uso os detentores do poder farão da psicologia, até que saibamos que espécie de governo teremos. A psicologia, como qualquer outra ciência, disponibilizará novas armas nas mãos das autoridades, em especial as armas da educação e da propaganda, ambas que, por meio de uma técnica psicológica mais refinada, podem chegar ao ponto de se tornar praticamente irresistíveis. Se os detentores do poder desejarem a paz, eles serão capazes de produzir uma população pacífica; na guerra, uma população belicosa. Se desejarem gerar inteligência, conseguirão; do mesmo modo, a estupidez. Nesse contexto, portanto, a profecia é impossível.

Quanto ao efeito da psicologia na imaginação, existirão provavelmente dois tipos de oposição. Por um lado, haverá uma aceitação mais ampla do determinismo. A maioria dos homens hoje se sente desconfortável em rezar pela chuva, em virtude da meteorologia; mas não sente tanto desconforto em relação a preces para um coração saudável. Se as causas de um coração sadio fossem tão conhecidas como as causas da chuva, essa diferença cessaria. Um homem que rezou por um coração saudável, em vez de chamar um médico para libertá-lo de maus desejos, seria qualificado de hipócrita, como se qualquer pessoa pudesse se tornar um santo ao pagar umas poucas libras a um especialista de Harley Street. É provável que a expansão do determinismo conduza a uma redução do esforço e um aumento geral da preguiça moral – não que esse efeito seja lógico. Não saberia dizer se isso seria um ganho ou uma perda, pois desconheço que outros benefícios ou prejuízos advêm do esforço moral aliado à falsa psicologia. Por sua vez, haveria uma emancipação do materialismo, tanto físico quanto ético; as emoções seriam consideradas mais importantes se constituíssem o tema de uma ciência reconhecidamente eficaz e prática. Esse efeito, creio, seria no conjunto salutar, visto que suprimiria as noções errôneas agora predominantes sobre o que constitui a felicidade.

No que concerne ao possível efeito da psicologia na mudança de nossa maneira de viver por meio de descobertas e invenções, não me aventuro a qualquer previsão, porque não vejo nenhuma razão para esperar um tipo de efeito mais do que outro. Por exemplo: é possível que o efeito mais importante seja ensinar os negros a lutar, assim como os homens brancos, sem obter quaisquer outros novos méritos. Ou, ao contrário, a psicologia pode ser utilizada a induzir os negros a praticarem o controle de natalidade. Essas duas possibilidades produziriam mundos muito diferentes, e não há maneira de imaginar se um ou outro, ou nenhum, serão criados.

Por fim: a grande importância prática da psicologia será a de oferecer aos homens e às mulheres comuns uma concepção mais precisa do que consiste a felicidade humana. Se as pessoas forem genuinamente felizes, não serão tomadas pela inveja, raiva e destrutividade. Exceto pelos itens de primeira necessidade, a liberdade sexual e a criação dos filhos são as questões mais relevantes – pelo menos para a classe média e para os assalariados. Seria fácil, com nosso saber atual, propiciar uma felicidade instintiva quase universal, se não fôssemos reprimidos pelas paixões malévolas daqueles que são infelizes e não desejam que ninguém seja feliz. Se a felicidade fosse comum a todos, ela se manteria preservada porque os apelos ao ódio e ao medo, que agora constituem quase toda a política, desmoronariam. Mas se o conhecimento psicológico for manipulado pela aristocracia, ele prolongará e intensificará todos os antigos males. O mundo é repleto de informações de toda espécie que poderiam suscitar essa felicidade como jamais existiu desde o surgimento do primeiro ser humano. Porém, antigos desajustes, ambição, inveja e crueldade religiosa bloqueiam seu caminho. Não sei qual será o resultado; contudo, penso que será melhor ou pior do que qualquer acontecimento que a humanidade já tenha vivenciado.