As consequências desse processo de crescimento superaram as ex-
pectativas. Onde quer que fossem suprimidos os obstáculos ao livre
exercício do engenho humano, o homem logo se tornava capaz de
satisfazer o seu crescente número de desejos. E se, por um lado, a
elevação do padrão de vida em breve levava à descoberta de grandes
mazelas na sociedade que os homens não mais estavam dispostos a
tolerar, por outro lado, provavelmente, não houve classe que não se
tenha beneficiado de modo substancial com o progresso geral. Não
poderemos fazer justiça a esse crescimento estarrecedor se o medir-
mos pelos padrões contemporâneos, que dele decorrem e que agora
tornam evidentes tantos defeitos antes não percebidos. O que tal pro-
gresso significou para os seus protagonistas deve ser avaliado pelas
esperanças e os desejos que os homens tinham quando ele começou;
e não cabe a menor dúvida de que seu êxito ultrapassou os sonhos
mais ousados. Em princípios do século XX, o trabalhador do mundo
ocidental havia alcançado um grau de conforto material, segurança e
independência que pareceria impossível um século antes.
Provavelmente, o que no futuro será considerado o efeito mais
significativo e abrangente desse êxito é a nova consciência de poder
sobre o próprio destino, a convicção das infinitas possibilidades de
melhorar a própria sorte, adquiridas pelo homem em virtude do
sucesso já alcançado. Com o sucesso nasceu a ambição – e o homem
tem todo o direito de ser ambicioso. O que tinha sido uma pro-
messa animadora já não parecia suficiente, e o ritmo do progresso
afigurava-se demasiado lento. Os princípios que haviam possibili-
tado esse avanço no passado começaram a ser considerados obstá-
culos à rapidez do progresso, a serem eliminados imediatamente, e
não mais as condições para a preservação e o desenvolvimento do
que já fora conquistado.
Caminho da servidão