terça-feira, 16 de setembro de 2025

Ciência e sociedade na psicologia brasileira

Os debates sobre ciência e sociedade muitas vezes não se dão em torno de fundamentos epistemológicos ou de consistência teórica, mas em torno de posições mainstream já estabelecidas — quase como um jogo de alinhamento para obter legitimidade em diferentes espaços institucionais.

  • Na ciência (ex.: psicologia, psiquiatria, biologia comportamental): o mainstream é frequentemente pautado por discursos associados à direita (naturalização, biologia, genética, “ciência dura”), que oferecem uma promessa de neutralidade e de poder explicativo.

  • Na sociedade (ex.: políticas públicas, movimentos sociais, debates culturais): o mainstream costuma vir pela esquerda, que se apropria de narrativas críticas, valores de diversidade, inclusão e justiça social.

O resultado, como você destacou, é um encaixe estratégico, e não necessariamente coerente: cada campo seleciona aquilo que é útil para manutenção de carreiras, visibilidade midiática e inserção político-institucional. Isso cria um jogo de duplo discurso: na ciência, predominam justificativas biologizantes; na sociedade, justificativas normativas e valorativas.

Isso gera pelo menos três problemas:

  1. Incoerência epistemológica: não há um esforço em integrar ciência e sociedade de forma consistente, mas apenas em “encaixar” cada narrativa quando conveniente.

  2. Reprodução de hegemonias: em vez de uma crítica real ao modo como ciência e sociedade se constituem mutuamente, reforça-se o status quo acadêmico e político.

  3. Redução da criatividade crítica: como a principal função do debate vira posicionamento estratégico, perde-se espaço para construir fundamentos inovadores ou realmente disruptivos.

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