As ciências sociais representam, em larga medida, um corpo de entendimento (com certeza sistemático e empiricamente fundamentado) cuja relevância deriva de seu papel nas práticas impulsionadas pelos valores predominantes e ascendentes de nossa época, e cujo âmbito explicativo (e, onde aplicável, antecipador e preditivo) é limitado aos fenômenos "significativos" para tais práticas e para uma articulação do mundo social (e natural) adequado para promover sua manutenção e extensão. Elas representam um modo de entendimento que reflete o "senso comum" ligado a esses valores, que carece de recursos conceituais para a definição de negatividades sistêmicas (sofrimentos com causas sistêmicas), que freqüentemente identifica tendências ascendentes atuais e regularidades sociais manifestas como leis da natureza humana, que geralmente não identifica as condições estruturais das ações e (das crenças) e assim exagera a significância (causal, e portanto, os merecimentos) das conquistas individuais, e que freqüentemente pressupõe que as únicas possibilidades viáveis para o futuro são aquelas realizáveis dentro nas estruturas prevalecentes. Este pressuposto pode parecer empiricamente confirmado, na medida em que as forças sociais informadas por ele impedem (ou restringem o espaço para) o desenvolvimento de possibilidades alternativas: porém na verdade ele permanece parte da "consciência não testada" deste modo de entendimento.
A neutralidade das ciências sociais. Hugh Lacey. Atividade científica e valores volume 1